Salve aventureiras, salve aventureiros, eu sou o Quiral, e esta é minha primeira publicação do Blogue. Minha intenção aqui é contar um resumo sobre minha jornada de três décadas como RPGista!
PRECEDENTE
Eu comecei a jogar no começo dos anos 1990, ainda pré-adolescente. Minhas experiências até então tinham sido com livros-jogos, se não me falha a memória, da série: Escolha sua Aventura (Edward Packard); publicados em português no final dos anos 1980, os video-jogos: Pitfall, Super Mário Bros e Alex Kid, bem como filmes de fantasia, como: Willow, na Terra da Magia; Labirinto ou A história Sem Fim. Outra fonte fundacional desse gosto veio de desenhos da época: He-man, Thunder Cats e (principalmente), Caverna do Dragão. Tudo isso contribuiu para imediatamente eu me apaixonasse com a proposta de me projetar na ficção e tomar as minhas próprias decisões no jogo, um exercício que superava todas as minhas experiências anteriores.
PRIMEIRA XP
O primo de um amigo da rua voltara de intercâmbio nos EUA e chegou empolgadíssimo para começar um novo grupo de jogos. Logo na primeira sessão esse amigo da rua explodiu a mente, fez uma fotocópia ("geração xerox") do livro, e montou seu próprio grupo (e aí que eu entrei). Esse foi meu primeiro grupo de jogo: RPG de garagem, nosso livro para jogar era uma fotocópia da incrível “D&D Rules Cyclopedia (RC), toda em inglês. Nosso material de jogo era um caderno (fazíamos fichas e anotações) e um dicionário. Na minha primeira aventura meu personagem foi um elfo, que lembro bem da galera me induzindo por conta de meus números: 13, 14, 11, 16, 10, 11 (série aproximada pois obviamente não lembro com exatidão), "não pode desperdiçar atributos assim com uma opção meia-boca", me falaram. Curiosamente (e ironicamente) eu perdi esse personagem na primeira hora de uma tarde inteira de jogo, e continuei atento ao jogo super interessado. Pra mim perder um personagem assim não era um problema, eu jogava Pitfall, Super Mario e Alex Kid, sabia que isso fazia parte de um jogo difícil e desafiador, eu queria mais, muito mais!
O modelo de jogo era episódico e persistente, ou seja: nosso DM preparava uma aventura, convocava a galera, jogávamos por algumas sessões (semanais), por muitas horas (já jogamos uma vez domingo de manhã, paramos pra almoçar e retomamos à tarde!), e uma vez encerrada a aventura (seja com sucesso ou fracasso), esperávamos algumas semanas (às vezes alguns meses) para uma nova convocação com uma nova aventura! Jogamos assim por uns dois ou três anos.
PRIMEIRA MESTRAGEM
Já nos meados dos anos 1990, ali com meus 13 anos, assumi a posição do que hoje chamo de "desafiante da mesa", mas também é conhecido como mestre do jogo. Tínhamos como base principal um material fotocopiado (geração xérox) da RC, mas também usávamos como consulta complementar dois livros da caixa vermelha de 1983 (traduzidos no português de Portugal, também fotocopiados), além do conteúdo First Quest, lançado em 1995, que apesar de ser da série AD&D2ed, era intercambiável. Peguei a base da aventura B2 (The Keep on the Borderlands) e montei a estrutura para jogarmos. Jogar nessa função me pegou de um jeito que mudou meu gosto pelo jogo. No primeiro ciclo eu curtia muito, mas nesse momento meu engajamento escalonou. Passamos a jogar semanalmente, por uns dois anos, e galera ultrapassou os níveis básicos do jogo e chegaram ali, talvez entre o seis ou sete. Tinha na mesa alguns personagens que se tornaram famosos heróis locais ou regionais, conheceram o rei dos gigantes, montaram grifos em uma viagem e abateram um lorde vampiro.
OUTROS SISTEMAS
Aí veio o ensino médio: "você joga D&D? Isso é coisa de criança cara, jogamos vampiro, a máscara". Eu descobri que existiam vários outros RPGs por aí, a primeira campanha que mestrei tinha ficado para trás, junto com o mundo da fantasia, agora eu iria conhecer o mundo das trevas. Por um semestre inteiro eu joguei só isso, semanalmente, um amigo da sala até tinha apelido de "Malkavs", por conta do jogo. Me lembro vagamente que eu joguei muito com Tremere. Mas logo comecei a participar de eventos de RPG e a conhecer outros jogos: GURPS, O Desafio dos Bandeirantes e Shadowrun são os que melhor me lembro de ter jogado, mas muitos outros eu joguei uma ou outra dose úinica, pra nunca mais, e assim os anos foram passando, e uma saudade começou a me aquecer o coração, a lembrança de um livro com um cavaleiro sendo perseguido por um tipo de dragão... o mundo da fantasia me chamava de volta! Convoquei os velhos amigos e retomamos nossa campanha, personagens que montam em grifos (e uma em pégasu) e as novas aventuras agora estavam à nossa frente, por pelo menos um ano, semanalmente, esse foi nosso RPG.
MUITO D&D da WotC
Em 2000 fomos contagiados por uma nova onda, o lançamento da nova edição de D&D, a terceira, prometida como melhor, mais bem organizada e com mais opções de jogo que suas versões anteriores. Esse tipo de propaganda nos convenceu a zerar nossa campanha e iniciar nesse novo mundo e na "era d20", esse acabou sendo o sistema que mais usei para jogo até este momento. De forma contínua, semanalmente, e em alguns momentos com mais de uma campanha (e grupos diferentes), extraímos praticamente tudo que era possível ao longo dos seus oito anos. Nesse período a minha interação com RPG mudou: sentíamos a necessidade de usa malhas quadriculadas e miniaturas, mestrei (ou joguei) longas campanhas, a mais marcante e duradoura delas com seis anos. Me lembro que juntávamos para fazer “vaquinha” (juntar dinheiro coletivo) para comprarmos vários suplementos do jogo. Em algum momento, inclusive, o livro: "Guia Para Níveis Épicos" (Epic Level Handbook), para continuar a jogar além do nível 20. Jogar bem tinha muita relação com estudar as diversas possiblidades de combinações de talentos, classes e raças, otimizar perícias, magias e itens mágicos.
Em 2008 foi lançada a quarta edição do D&D, que se propunha a ser mais equilibrada e mais bem organizada. Uma coisa é fato: as classes da terceira edição eram completamente desequilibradas (mas isso não é, necessariamente um problema, como veremos em outros estilos de jogo de outras edições ao longo da XP que construiremos com esse blogue). Isso deu uma certa reoxigenada, a novidade inicial nos pegou, os livros eram bem feitos, bem organizados e eu curti num primeiro momento. Após oito anos jogando praticamente apenas a 3.5, foi um certo alívio largar tudo aquilo e começar de novo. Mas a quarta edição não me pegou, de verdade, naquele momento eu estava ali muito mais pela galera, pelo momento com amigos, do que pelo jogo. Eu jogava nessa época o DDO (Dungeons & Dragons Online), e realmente achava mais legal o DDO do que a 4e.
PERÍODO SABÁTICO
No final de 2010 eu tive que me mudar de cidade, e acabei me afastando do RPG de mesa. Por outro lado, eu mergulhei ainda mais no DDO, extremamente empolgado. Eu me lembro que eu sentia muita falta da galera do porão, mas nem tanto assim do RPG de mesa, de fato. Fiz bons amigos no RPG online, retomei algumas antigas amizades distante fisicamente e tive ali um período bem legal de jogo.
RETOMADA
Cerca de quatro anos depois, em 2014, descobri o lançamento da quinta edição do D&D. Parte dos amigos das antigas me apresentaram uma ferramenta online que simula uma mesa de jogo, chamada de roll20, e me convenceram a usá-la para resgatamos nossas jogatinas. Me lembro que as primeiras fagulhas de memória para projeção de aventuras e campanhas vieram dos anos 1990s, bem do meu comecinho, ou que eu joguei ou que eu mestrei, quase nada da época de 2000 veio de imediato como inspiração. No primeiro ano (ali entre os níveis 1-5) mestrei uma campanha semanal, e joguei algumas aventuras ou mini campanhas também. Estava realmente feliz e empolgado com a retomada, o RPG pulsava vibrante em minhas veias.
Em 2015 eu conheci o canais do AzeCos e Gruntar, e comecei a consumir RPG de uma outra maneira também: como espectacdor (eu já curto assistir futebol, no final, qual a diferença?). Para além disso, eu também comecei a consumir conteúdo de RPG, coisa que eu não fazia antes. Foi nesse período que eu conheci a série "mestres do Dungeon" (AzeCos), Tear dos mundos, páginas no facebook, blogues e podcasts.
EU REENCONTREI A MAGIA
Em 2017 eu assisti no canal do AzeCos o lançamento de um financiamento coletivo de um jogo muito interessante, chamado Dungeon Crawl Classics - RPG, cujo embaixador tupiniquim do sistema era o ilustre Diogo Nogueira, e a aventura era de autoria e mestrada pelo grande Rafael Balbi. Esse jogo me pegou de um jeito difícil de explicar. As artes em preto em branco, letalidade altíssima, as classes me lembravam a do D&D antigo, e os dados estranhos me deixaram de queixo caído: EU QUERIA MESTRAR ISSO!
Foi exatamente devorando conteúdo sobre o DCC-RPG que descobri o incrível movimento OSR (do inglês, Old School Revival), que já rolava por aí há mais de uma década! Eu já estava bem insatisfeito com as contradições do estilo que buscava e sistema que usava (5e), e não tinha (até então) encontrado soluções.
Logo de imediato comecei meus contatos de trocas de ideias com a galera da OSR, em especial com o Balbi, que havia iniciado uma campanha chamada “Ouro & Glória”, usando como sistema a D&D Rules Cyclopedia. Eu não sei explicar bem como isso mexeu comigo, mas ver a RC sendo usada, quase vinte anos depois de meu último contato com ela, foi arrebatador. A partir dessa interação, comecei a explorar tanto o DCC-RPG, como o próprio movimento OSR. Por um breve período (talvez uns seis meses) eu corri atrás de muita coisa nova, The Black Hack, Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros, Dungeon World, 5 torches deep. Eu estava reexperimentando o RPG e todas as suas novas possiblidades.
Estudar a história do jogo me levou a olhar bem mais para trás da D&D-RC (1991). O RPG oitentista e setentista me eram completamente desconhecidos, e foi graças à essas interações que minha curiosidade me permitiu navegar por essas águas. Passei a e explorar suas raízes, desde a conjuntura que culminou na publicação do primeiro sistema de RPG, em 1974, como tudo que derivou disso. Como um grande entusiasta do jogo, abri um canal no youtube para trocar essa XP com a galera, e fiz uma série de fanzines, chamada de d20age (lê-se d’vintage) e tudo isso culminou no lançamento de uma releitura desse RPG antigo, chamado de d20age RPG. Agora, mais recentemente, decidi me aventurar com blogues, e é por isso que estou aqui! Vida longa ao RPG artesanal.
Janeiro, 2025

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